O que os trabalhadores de esquerda podem aprender com os conflitos na Ucrânia

Foto por Christiaan Triebert
Mundo

O que os trabalhadores de esquerda podem aprender com os conflitos na Ucrânia

No início de 2014, os trabalhadores de Kiev, na Ucrânia ocuparam uma das principais praças da cidade, a Praça Maidan[1]. Os manifestantes buscavam a derrubada do presidente corrupto do país por sua colaboração com empresários e o governo russo. Por fim, o movimento exigia a saída da Ucrânia da órbita econômica da Rússia e ingresso na União Europeia. Este movimento foi bastante apoiado pelos grandes veículos de comunicação Ucranianos e pelos países ocidentais. Os tradicionais partidos comunistas fizeram uma campanha internacional para apoiar os capitalistas Russos enquanto alguns liberais e conservadores fizeram campanha pró-movimento da praça Maidan. Numa situação dessas, como o trabalhador engajado manifestaria sua solidariedade?

O presidente Ucraniano foi deposto e habitantes de uma região do leste da Ucrânia[2] iniciam um movimento para se anexar na Rússia. A Criméia, um ponto estratégico do Mar Negro entra em rebelião sendo anexada à Federação Russa.

Saídos do movimento da praça Maidan, o novo governo ucraniano conta com políticos de partidos de extrema-direita, os dois maiores são o neo-nazista Svoboda (Liberdade) e o neo-fascista Setor Pravyi (Setor Direita). Entretanto as pessoas do movimento, em sua maioria esmagadora, trabalhadores, não tem ideia do calibre dos que atuam lado-a-lado, ligados apenas pelo patriotismo e pela promessa de que a entrada na União Europeia traria mais empregos e prosperidade para todos.

Enquanto isso os movimentos pró-Rússia invocam figuras “heroicas” da história Russa como Stalin e Lenin, e entre os mais velhos, a nostalgia da União Soviética. Esta nostalgia é alimentada pelo desemprego trazido pelo mercado de trabalho restabelecido desde 1991, fato agravado pela atual crise do capitalismo. Todos esses símbolos fizeram com que uma parte razoável da esquerda tradicional, principalmente os marxistas-leninistas, apoiassem o movimento pró-Rússia, mesmo ele não sendo anticapitalista, e sim capitaneado pelos capitalistas russos, a Igreja Ortodoxa e os grupos Nacional-Bolcheviques – que são partidos de extrema-direita.

Dentro de uma superficial polarização de esquerda e direita– com ares de guerra fria, não podemos nos iludir, achando que deveríamos apoiar um lado ou outro. Dentro desses dois lados aparentes há os interesses dos trabalhadores, que em grande medida são manobrados pelos interesses de frações dos capitalistas na Ucrânia:1) Os movimentos da Praça Maidan são articulados pelos patrões ucranianos apoiados pelos Estados Unidos; 2) os movimentos separatistas pró-Rússia liderados por outra elite ucraniana apoiada pelos milionários russos.

Se há algo que as duas posições acima concordam é em nunca apoiar os trabalhadores nos processos de insurgência. Desde a guerra fria, os Estados Unidos sempre trataram de apoiar os movimentos nacionalistas ao invés dos trabalhadores dentro das ditaduras soviéticas, o mesmo sobre a União Soviética, que utilizara do nacionalismo no terceiro-mundo para submeter as reivindicações dos trabalhadores aos interesses das burguesias nacionais.

Em momentos de tensão que surgem nas diversas partes do mundo, para além da aparência e da propaganda burguesa, contra a armadilha do nacionalismo, sempre houve a posição autônoma da classe trabalhadora. E para o trabalhador de esquerda, que luta contra o parasitismo dos capitalistas, é esta a única posição autêntica.

É através do conflito dos trabalhadores contra os patrões que deve ser pensada as táticas dos trabalhadores de esquerda, e ainda mais, é através desta luta que o trabalhador se enxerga como uma classe que está em todos os países capitalistas do mundo. Não podemos nos deixar ser nacionalizados por patrões, sejam eles de “esquerda” ou de direita. Fiquemos atentos, principalmente àqueles patrões que se pintam de vermelho.

A lição tiramos do conflito na Ucrânia, que pode ser transposto à outras partes do mundo, é que não devemos concordar com as cartas marcadas oferecidas. Cabe-nos apoiar os trabalhadores que não aceitam ser explorados nem pelos patrões de Kiev, nem pelos patrões de Moscou.

 

Notas

[1] A Praça da Independência, praça central da capital da Ucrania, Kiev.

[2] Chamada de Nova Rússia (Novorossiya).