Carta aberta da mãe de Julian Assange para o mundo

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Carta aberta da mãe de Julian Assange para o mundo

Julian Assange fundou o Wikileaks com o objetivo de receber informações de interesse geral de denunciantes e, a partir da checagem da veracidade destas informações/denúncias, divulgá-las ao público. Em 2010 o Wikileaks protagonizou sua mais notória série de divulgações, revelando o abuso sistemático do sigilo oficial por parte do governo e das Forças Armadas dos Estados Unidos.

Como consequência direta o governo dos EUA criou uma investigação criminal contra Julian Assange, a equipe do wikileaks, seus apoiadores e supostos associados. Não bastasse a coação de testemunhas chegou-se ao ponto de cogitar seu assassinato extrajudicial por meio de ataques de drones. A wikileaks foi caraterizada como organização terrorista e Assange como um “terrorista high-tech”, um combatente inimigo envolvido na “ciberguerra”. Os EUA querem que ele seja extraditado para ser julgado.

Na sanha de pegar Assange de “qualquer modo”, ainda em 2010, a Suécia emite um mandado de prisão contra ele, sob a acusação de agressão e estupro. Assange se entrega à polícia no Reino Unido e é solto sob fiança. Sete anos depois, a justiça sueca arquivou o processo. Em 2012, Assange conseguiu asilo na embaixada do Equador, depois que a contestação do processo de extradição foi negada. Lá permaneceu até 2019, quando o presidente do Equador, Levi Moreno, cancelou seu asilo político, permitindo que a polícia inglesa invadisse a embaixada e efetuasse sua prisão em nome dos Estados Unidos.

Desde então ele está detido na prisão de segurança máxima de Belmarsh. Segundo todos que tem contato com ele, sua saúde física e mental se deteriora a cada dia, motivo pelo qual seu pedido de extradição foi negado no ano passado. No total ele é acusado de 18 crimes e pode ser condenado a cumprir 175 anos de prisão.

No último dia 17, a ministra do interior do Reino Unido reviu a decisão anterior e aprovou sua extradição para os EUA, onde sem dúvida sua vida estará em risco. Assange não cometeu nenhum crime, ele é um jornalista e editor que está sendo punido por fazer seu trabalho – divulgar a verdade dos fatos. Sua prisão é um ataque à liberdade de imprensa e abre um precedente perigosíssimo em nível internacional.

LIBERDADE PARA JULIAN ASSANGE JÁ!

A carta

Por Christine Ann Assange

Há cinquenta anos, quando dei à luz pela primeira vez como jovem mãe, pensei que não poderia haver dor maior, mas logo a esqueci quando segurei o meu lindo bebê nos meus braços. Dei-lhe o nome de Julian.

Agora entendo que estava errada. Há uma dor maior.

A dor incessante de ser mãe de um jornalista premiado, que teve a coragem de publicar a verdade sobre crimes governamentais de alto nível e corrupção.

A dor de ver o meu filho, que tentou divulgar verdades importantes, manchado mundialmente.

A dor de ver o meu filho, que arriscou a sua vida para denunciar a injustiça, incriminado e privado, repetidamente, do direito a um julgamento justo.

A dor de ver um filho saudável deteriorar-se lentamente, porque lhe foram negados cuidados médicos e sanitários adequados durante anos e anos de prisão.

A angústia de ver meu filho submetido a torturas psicológicas cruéis, na tentativa de quebrar seu imenso ânimo.

O pesadelo constante de ele poder ser extraditado para os Estados Unidos e depois passar o resto dos seus dias enterrado vivo em total isolamento.

O medo constante de que a CIA possa cumprir os seus planos para assassiná-lo.

A onda de tristeza quando vi seu corpo frágil cair exausto, com um mini AVC, na última audiência, devido ao estresse crônico.

Muitas pessoas ficaram traumatizadas ao ver uma superpotência vingativa que usa os seus recursos ilimitados para intimidar e destruir um indivíduo indefeso.

Quero agradecer a todos os cidadãos decentes e solidários que protestam globalmente contra a brutal perseguição política que Julian sofreu.

Por favor, continuem levantando a voz perante os vossos políticos, até que seja tudo o que ouvirão.

A vida de Julian está nas mãos deles.

Tradução: José Catarino Soares
Fonte: Passa Palavra