O mundo inteiro sofre com os efeitos da pandemia de COVID-19, mas no Brasil o vírus tem encontrado um terreno fértil para se propagar. Temos enfrentado nos últimos meses uma dupla carga de destruição: o Sars-Cov-2 e outro projeto mortal de ataques diretos e indiretos contra o proletariado O governo Bolsonaro tem se apresentado incansavelmente como o líder destes dois massacres: salários congelados, redução de poder de compra, desemprego crescente, meses sem auxílio emergencial, ciência e educação desdenhadas. Some-se a tudo isso uma campanha constante a favor da proliferação do vírus, com atraso deliberado na compra de vacinas, promoção de aglomerações sem máscara, descrédito das melhores práticas de prevenção, etc. Trata-se de um variado e amplo pacote de sabotagem de tudo que aponte para uma rápida superação da pandemia.
É necessário voltar a lutar
Este momento de aprofundamento da crise social e sanitária nos obriga a refletir sobre quais devem ser as formas de luta e o caminho para o necessário enfrentamento. Agora e pela primeira vez, após 14 meses de pandemia e quase 500 mil mortos, sindicatos, partidos e grupos da esquerda do Capital timidamente chamam manifestações de rua, ainda assim colocando no centro da convocação o “Fora Bolsonaro”. Esta palavra de ordem confunde mais do que esclarece. E não é porque Bolsonaro não tenha dado motivos para ser impedido de continuar governando em função do elevado número de crimes de responsabilidade que cometeu e continua a cometer.
O problema com esse movimento “forista”, entre muitos, é que Bolsonaro é mais um na lista de presidentes que dão continuidade a um projeto de governo que adota medidas nocivas para o proletariado. Projeto que vem desde o final da Ditadura em 1985, ora tutelado, ora regido diretamente pelos militares e amplos setores do capitalismo brasileiro. Ou seja, centrar a pauta dos atos do dia 29.5.21 apenas a esse movimento “forista” é contraproducente para o proletariado, uma vez que a materialidade dos ataques permanece a mesma independente de quem assumir o Executivo. Não interessa aos explorados trocar de presidente, mas sepultar medidas de governo que podem ser realizadas e continuadas por outros.
A luta deve ser da classe
Proletários/as com consciência de classe devem ter objetivos claros e métodos coerentes com a luta histórica da classe. Motivos para a saída de Bolsonaro e de tudo que ele representa não faltam. Mesmo antes da pandemia o proletariado já tinha razão suficiente para ir às ruas, contra a Reforma da Previdência, em 2019, por exemplo. Identificamos que é imediato lutarmos contra a versão reduzida do auxílio emergencial aprovada para 2021, que excluiu do benefício mais de 20 milhões de brasileiros em situação econômica vulnerável. Além disso, o auxílio caiu de R$600 para R$200 neste ano. Sabemos que, nesse momento, o auxílio emergencial é fundamental para a manutenção de vidas. Assim, lutar pelo seu aumento e ampliação é central.
Igualmente importante é a luta pela expansão das vacinas já utilizadas mundo afora, saindo desse embaraço geopolítico assassino que o governo nos colocou. Além disso, o governo tem aproveitado o momento de apatia do proletariado para potencializar as privatizações com a entrega da cadeia elétrica do país na mão de empresas privadas através da venda da Eletrobrás. Ainda existe o risco de aprovação da PEC 32 que efetiva a reforma administrativa. O texto atual restringe a estabilidade dos servidores públicos e reforça um Estado de austeridade fiscal permanente, a longo prazo desmontando a capacidade do Estado de prestar serviços à população subordinando ainda mais a sua oferta ao lucro privado. E mais, segundo o IBGE, o Brasil encerrou o primeiro trimestre de 2021 com 14,2% de desempregados, a maior taxa já registrada desde que foi iniciada em 2002. São 14,3 milhões de pessoas sem trabalho.
Em relação à educação, o orçamento das universidades federais está em queda desde 2013, ainda no governo Dilma, mas a situação se agravou durante os governos Temer e Bolsonaro. Recentemente, com o anúncio de um novo corte de verbas nas universidades federais, existe a possibilidade real de paralisação de suas atividades, impedindo a manutenção e funcionamento de hospitais universitários e pesquisas de produção de vacinas.
Ao proletariado de nada adianta participar de atos para tirar presidentes sem um esforço consciente para alterar o protagonismo destas ações e das lutas vindouras, com o intuito de que a pauta dessas lutas seja centrada naquilo que atenda suas necessidades imediatas mais urgentes. Por isso, deve estar em primeiro plano:
a) auxílio emergencial digno e com critérios amplos para atingir a maioria da população;
b) fim da Reforma Administrativa, que vai piorar ainda mais os serviços básicos;
c) aquisição de todas as vacinas com eficácia comprovada, sem critérios geopolíticos, viabilizando a imunização de toda população;
d) suspensão imediata de programa de privatizações do governo;
e) fim do estrangulamento financeiro de instituições de saúde e de ensino.
Identificamos que hoje são minoritários os setores que compartilham de tais preocupações sem subordiná-las a políticas eleitoreiras. Consideramos que estas pautas se constituem em um balizador que permite aos explorados identificarem com clareza quem são os seus aliados e quem são os falsos amigos da esquerda do capital. O proletariado não pode ficar refém de partidos, sindicatos e outras organizações que têm como objetivo apenas as eleições. A luta proletária deve se organizar para além desse tipo de política. Contra as tentativas de aproveitar o desgaste do governo para substituir nomes a cada quatro anos, o proletariado deve ter uma agenda própria e colocá-la sempre como central em qualquer luta.
Não questionamos a legitimidade para protestar neste sábado (29/05/21), que em nada se compara com as aglomerações irresponsáveis promovidas pelos dominantes. Trata-se de demonstrar, apesar dos riscos, que, para além da COVID-19, temos consciência que o governo tem múltiplas formas de causar a morte do proletariado. Da mesma forma, entendemos que permanecer em casa em virtude da pandemia, não significa não estar do mesmo lado da trincheira ou fugir da luta.
Orientações sanitárias e políticas:
– Não vá ao ato se for de grupo de risco, morar com alguém nessa situação, estiver com sintomas ou com baixa imunidade;
– Manter distância entre as pessoas de pelo menos 1,5m;
– Usar e assegurar que todos os participantes estejam de máscara, de preferência do modelo PFF2;
– Levar máscara extra e trocar caso esteja úmida ou danificada;
– Levar o próprio cartaz, com pautas sociais de classe e não eleitorais;
– Não se deixar levar e ajudar a desmascarar aproveitadores e oportunistas
